Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Estudantes avaliam Enem 2016

Edição nº 1544 - 11 de Novembro de 2016

Desde sua primeira edição, estudantes terceiranistas, treineiros (1º e 2 Colegial) e egressos (já nos pós médio) vêm participando do Enem em busca de uma vaga no ensino superior. A participação cresceu quando o exame passou a ser utilizado também como mecanismo de seleção para o ingresso nas faculdades particulares através do Prouni – Programa Universidade para Todos, criado pelo governo Lula em 2004, com bolsas de estudo integrais ou parciais (50%), nas universidades particulares. No último final de semana 5 e 6, estudantes das escolas públicas (Escola Coronel e Barão da Rifaina) e particular (Colégio Rousseau)  participaram do Enem, em Uberaba. Veja a avaliação que fizeram em entrevista ao ET.

 

 

  Escola Coronel

A jovem Maria Carolina Silva 17, concluinte do ensino médio, pretende cursar Psicologia, mas diz que não tem pretensão de  uma federal e reconhece que não se saiu bem. “Não exijo de mim uma federal, mas quero pleitear o Prouni. O  Enem 2016 foi uma prova muito difícil, não consegui  responder várias questões. E reconheço que a causa está na minha falta de estudos, não me empenhei o bastante no curso. Acredito que os alunos de escola pública poderiam aproveitar muito mais e, ainda, se quiserem estudar por fora”, reconhece.
Sobre o tema da redação deste ano, 'Intolerância Religiosa', Carol diz que não foi difícil, um tema que está em voga, mas não no Brasil.  “Não foi difícil, mas para opinar precisaria mais conhecimento e mais técnica na construção do texto. Não consegui me expressar. Na escola, acho que a gente precisaria ser treinado mais na redação”.
Em relação às outras áreas, a estudante reconhece a fraca dedicação aos estudos dos alunos. “Acho que os estudantes devem aproveitar mais o que é dado em sala de aula. Por exemplo, muitas questões do Enem, eu sabia que tinha visto aquele conteúdo em aulas de História, Geografia... mas não estava fixado. Então, se o aluno quiser ele consegue se sair bem, não é porque é escola publica que a gente sai mal, é porque não valoriza o que é dado”.
Outro fator que Carolina considerou prejudicial foi a falta de treino no Enem. “Fazer o exame no primeiro e segundo ano, acho que é importante para treino, para não  chegar apavorado para fazer a prova, como se fosse  um bicho de sete cabeças”.
Outros estudantes ao redor de Maria Carolina concordam com o seu ponto de vista, em relação a um melhor aproveitamento do que é dado em sala de aula e de o aluno se aprimorar nos conhecimento. Foram unânimes em reconhecer que a escola cumpre seu papel em ensinar, com bons professores e os conteúdos apresentados. Consideram, entretanto, a falta de interesse dos alunos, às vezes, até mesmo pelo fato de a escola ser gratuita, um aspecto que deve ser revisto.
“Hoje há muitos meios de o aluno complementar os estudos, inclusive com professores da escola. Acredito que nós, alunos, estamos deixando a desejar nesse ponto, não corremos atrás do que queremos, ficamos com o que foi dado em sala de aula e pronto”, afirma João Pedro Santos 17, do 2º ano, sugerindo mais aulas de química, física, redação, interpretação de textos. “O nível foi muito elevado, então acho que essas regras que são dadas no dia a dia, devem dar lugar a outras coisas como interpretação de textos e, a cada semana uma redação, nos ajudando a nos preparar para concursos como este”.

Veja outros depoimentos:

Karine Stefânia, 17, também concluinte do Ensino Médio, foi treineira nos dois primeiros anos e agora fez a prova pra valer e avalia positivamente. “Em relação aos anos anteriores, achei o Enem deste ano menos complicado, apesar do nível elevado na química e na física. A redação também foi bem puxada pra gente que está na escola pública e não tem muito esse treinamento, embora seja a questão de maior peso no exame. Eu, particularmente achei o tema muito difícil, não soube dar uma opinião por escrito. Não fiz uma boa redação, primeiro por não ter treinamento em redação, segundo por não conhecer o assunto”. Alguns alunos disseram que construíram um único texto durante o ano e outros afirmaram que fizeram apenas três redações recomendadas pelos professores.
Giovanna Bracelloti 15, aluna do 1º ano, estudante da rede pública há dois anos fez o exame como treineira. “Foi uma experiência nova para mim e, por ser o primeiro não vi ainda muitas matérias, mas a prova em si foi uma experiência muito positiva, me mostrou que é preciso estudar. Acredito que, para os alunos do 3º ano, que estão concluindo o Colegial e pleiteiam uma federal, por exemplo, o exame foi difícil, caso ele não esteja preparado. Então, como quero cursar odontologia, precisarei estudar muito para conseguir uma boa nota”, afirma, destacando que as mais difíceis para ela foram a química e a física.  Já a redação, achou o tema importante e para quem conhece o assunto, não foi difícil.
Eduardo Antunes 17, estudante do 2º ano, fez o seu segundo Enem. “Comparado ao ensino que estamos tendo na escola pública, senti que o nível está muito elevado. A prova foi mais difícil e acredito que a minha nota será menor, mas com muito estudo vou me recuperar para conseguir uma boa pontuação no 3º ano, para entrar numa universidade pública”.
Eduardo considerou propício o tema da redação, devido ao preconceito, mas considerou difícil. “No ano passado saí bem na redação, este ano não sei, embora tenha lido sobre o assunto por sugestão do professor de Sociologia, Daniel, que selecionou 16 temas  e nos passou para pesquisarmos e lermos sobre o assunto. Mas não foi o suficiente, porque para uma dissertação argumentativa é preciso treino, muita redação mesmo e não estamos tendo”.

 

Colégio Rousseau

 

O terceiro anista, Carlos Alexandre Camilo Ribeiro 18, fez o seu segundo Enem e aconselha os alunos a prestarem o exame desde o 1º Colegial.  Eeu gostaria de ter feito o Enem de 2014 para ter uma maior experiência, porém a diferença que percebi em relação aos dois  que fiz, é que este ano, as questões foram mais interpretativas, isto é, englobando mais de uma matéria e senti isso em todas as áreas. E o fato de serem  interpretativas, torna a prova mais extensa e isso mexe com o psicológico”. Sobre a redação, Carlos considerou o tema, “mediano, porque não encontramos tantos fatos  ou casos de intolerância no Brasil, especificamente. Claro que a religiosidade está presente na sociedade, além do que muitos políticos exercem uma influência religiosa”.
Eduardo Augusto de Oliveira 16, aluno do 2º ano, é treineiro pela segunda vez. “Em relação ao Enem de 2015, este ano caiu um pouco mais de conteúdo, mas o problema que vejo é que é uma prova muito extensa para pouco tempo. Então, além de fazer a prova, a gente tem de se preocupar na organização do tempo. Não é uma prova difícil, mas o seu tamanho e o tempo a tornam difícil, é uma prova cansativa e isso atrapalha o desempenho. Acredito que ela poderia ser feita em três dias”, afirma.
Sobre a redação, Eduardo sabe que existe a  intolerância, mas considerou que o tema foi muito específico. “Acredito que isso dificultou um pouco a elaboração de um texto em relação ao tema, “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, isso é muito particular. Nas outras áreas, o que achei mais puxado foram as Humanas e Linguagens, porque gosto mais de exatas”.
Mirella Cristina Coetti da Costa, também no 2º ano, concorda com Eduardo, julgando a prova mais conteudística. “Foi um exame extenso só que com textos menores. Achei pesada a parte de ciências  da natureza  e achei contraditório o fato da PEC 241 querer reduzir as aulas de Filosofia e Sociologia e foram os temas mais abordados e mais difíceis, na minha opinião”.
Sobre a redação, para Mirela  o tema era previsível, porém acredita que há assuntos mais importantes a serem abordados. “O Brasil tem outros problemas mais graves que deveriam ter sido tratados, como por exemplo, a questão urbana e a cultura. Há, sim, intolerância, conflitos, mas são casos pontuais, mais distantes da sociedade, ela pode ser um problema em outros países, mas no Brasil, não, aqui temos outros problemas a serem enfrentados”, sugeriu.

Ana Paula Valadares de Oliveira 17 não pôde fazer o exame nesse final de semana, porque estava inscrita em uma das escolas ocupadas pelos estudantes que protestam contra a PEC 241 e a MP 746 (*). “Já dei uma olhada na prova dos colegas e achei uma prova conteudista,  porém com  textos menores, só que o Enem é muito cansativo, pelo menos foi o que senti nos dois primeiros.  Sobre o fato do adiamento devido à ocupação da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), onde faria o exame, Ana Paula diz que está na expectativa, não deixando de gerar uma certa ansiedade. “Agora é ficar na expectativa e só temo que seja mais difícil. Por outro lado, esse adiamento pode gerar questões jurídicas e prejudicar quem vai fazer o exame agora no início de dezembro”, avaliou.
(*) A PEC 241 (Proposta de Emenda à Constituição) e a MP 746 (Medida Provisória) foram editadas recentemente pelo governo Temer. A PEC 241, já aprovada pela Câmara, congela os gastos primários, como Saúde e Educação, por 20 anos, não autorizando nenhum aumento além da correção anual da inflação. A MP 746, publicada em setembro, impôs uma reforma no ensino médio sem que os pontos fossem debatidos com a sociedade brasileira.