Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Por Ivone Regina Silva

Levanta-te, vem para o meio

O tema da Campanha da Fraternidade (CF) de 2006 é "fraternidade e pessoas com deficiência" e o lema, "levanta-te, vem para o meio"(Mc 3,3).

O texto-base aborda primeiramente a realidade social e a problemática enfrentada pelas pessoas com deficiência, bem como a história de suas lutas e conquistas.

Ao mesmo tempo, à luz dos princípios evangélicos e éticos, são analisadas criticamente diversas atitudes pouco fraternas em relação às pessoas com deficiência e soluções inadequadas para a sua problemática.

Na terceira parte, que é o agir, apontam-se diversas pistas para a maior inclusão social e religiosa das pessoas com deficiência; as ações sugeridas envolvem a denúncia de situações discriminatórias e de exclusão; tratam da ação da família, da prevenção das várias formas de deficiência e da promoção de atitudes fraternas.

A CF de 2006 traz ao centro de nossa atenção as pessoas com deficiência, que são freqüentemente vítimas de preconceitos e discriminação, sobretudo numa tendência cultural que privilegia os fortes e saudáveis, os belos e fisicamente perfeitos, enquanto marginaliza e até exclui os que têm menos capacidade de se afirmar sozinhos e de competir com os outros.
O lema "levanta-te, vem para o meio" (Mc 3,3) é da passagem do Evangelho de S.Marcos, em que Jesus cura um homem com a mão atrofiada. Tudo leva a pensar que aquele pobre homem era desprezado e deixado lá num canto por causa da sua deficiência.

A palavra e a atitude de Jesus ensinam muita coisa: são um convite para que aquela pessoa com deficiência tenha coragem e não se resigne a ficar no seu cantinho; que ocupe seu espaço e assuma sua dignidade.

E a todos, dá a entender que aquela pessoa não podia ser desprezada e abandonada a si mesma. A palavra e a atitude de Jesus desafiam os saudáveis, os fortes e fisicamente "perfeitos" a superarem qualquer preconceito e discriminação em relação às pessoas com deficiência e a fazerem a sua parte para acolhê-las para valorizar e promover a dignidade delas.
Mas afinal, você sabe o que é deficiência?

A noção de deficiência ainda é confundida com a de incapacidade. O meio ambiente e o contexto cultural e socioeconômico é que incapacitam.
Se não houver rampas de acesso num edifício, uma pessoa com deficiência motora, em cadeira de rodas, não poderá entrar.

Se não houver código braile nos botões de um elevador, uma pessoa com deficiência visual não poderá subir sozinho a um determinado andar!

Nestes casos, deficiência é a diferença humana que requer atenção as suas especificidades quanto à forma de comunicação, mobilidade, ritmos, estilos.
A deficiência aparece em todas as raças, etnias, idades, nacionalidades, religião, gêneros e classes sociais.

Ela pode ser física, visual, auditiva, intelectual, múltipla (união de duas ou mais deficiências) e/ou a surdocegueira (deficiência única). Pode ser de nascença ou ter surgido em outra época da vida, em função de doença ou acidente.

A CF é um grande momento para a evangelização e seu objetivo é promover atitudes de verdadeira fraternidade e a verdadeira cultura da solidariedade social, coerentes com o ensinamento do Evangelho de Jesus.

O cartaz nos inspira perfeitamente sobre a CF: "Levanta-te, vem para o meio!" (Mc 3,3).
A frase de Jesus, dirigida ao homem com a mão atrofiada, representa o convite feito a todas as pessoas com deficiência para que se sintam acolhidas e valorizadas.
As cores claras e alegres mostram que a deficiência não é, por si, causa de tristeza. Ao mesmo tempo, a Campanha ajuda a tomar consciência sobre as condições quase sempre difíceis vividas pelas pessoas com deficiência.

O fundo azul transmite calma e tranqüilidade. Lembra que Deus está presente na vida dessas pessoas.

O moço que aparece no cartaz é Victor, um jovem com síndrome de Down. Ele estuda, trabalha numa lanchonete e faz academia. Permitir e favorecer que pessoas com deficiência possam se desenvolver é um desafio que envolve os vários setores da sociedade e da Igreja.
A imagem é um apelo forte para que deixemos a condição de apenas espectadores.
Vamos nos envolver com ações que resgatem a dignidade das pessoas com deficiência. Vamos construir uma cultura de solidariedade com esses irmãos e irmãs.

(*) Ivone Regina é advogada e Conselheira da OAB/MG