Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Maria ingressa no palácio real

por Pe. Luiz Carlos Oliveira

Celebramos a Assunção de Maria ao Céu. O fato de a celebração ser no 15.08 não quer dizer que Maria tenha terminado sua vida nesse dia (não sabemos se morreu – eu acho que sim, pois Jesus também morreu). O motivo de ser esse dia é porque é o dia da dedicação de uma igreja a Maria em Jerusalém. O salmo 44, celebrando o matrimônio real, contempla a beleza da esposa que é conduzida ao rei na festa das núpcias. O salmo é aplicado a Maria, que entra na mansão do eterno Rei. É aplicado também à Igreja, esposa de Cristo que vem de longe, formada por todos os povos para unir-se a Ele na fidelidade.
Essa celebração tem duas dimensões: uma celeste e outra terrestre. Vemos Maria glorificada e imagem da Igreja (mulher vestida de sol); na visão terrestre conhecemos o projeto divino que Maria proclama para a Igreja em seu canto de louvor, o magnificat. Ao contemplarmos Maria, sendo levada ao Céu em corpo e alma, reconhecemos a grande vitória de Cristo, Senhor, que entrega o Reino ao Pai, depois de destruir todo o poder e força, e colocar todos os inimigos sob seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte (1Cor 15,24-26). A Assunção de Maria demonstra essa vitória de Cristo. Ele é o primeiro que ressurgiu. Ela é a primeira fiel a ser contemplada com a ressurreição total, realização de toda a esperança da humanidade. “É a aurora e o esplendor da Igreja triunfante e consolo para o povo ainda em caminho” (prefácio). Maria está unida à glorificação do Filho, pois a Ele estava assimilada.
No evangelho de Lucas ouvimos a narração da visita de Maria a Isabel. Maria, que leva o Filho de Deus, está repleta do Espírito Santo. A saudação de Maria transmite a Isabel a plenitude do Espírito Santo, que a faz exultar com seu filho. Essa visita é cheia da graça divina, e pela primeira vez na comunidade messiânica uma mulher, figura da Igreja, compreende e proclama Maria a Mãe do Senhor, o Deus vivo. Maria recebe de Isabel a proclamação de sua bem-aventurança, a maior e fonte de todas as outras: “bem-aventurada aquela que acreditou porque será cumprido o que o Senhor prometeu” (Lc 1,45).
Nós continuamos essa saudação quando rezamos a Ave-Maria. A bendita entre todas as mulheres alegra-se em Deus pelas maravilhas realizadas nela. É a Igreja que continua reconhecendo as maravilhas que o Senhor nos fez em Seu Filho Redentor. Alegrando-se mantém sua atitude fundamental de vida, que a faz mais bendita: “olhou a humildade de sua serva”, e, como dissera na encarnação, “Eis aqui a serva do Senhor”. A Igreja, como Maria, não é o fim em si, mas o serviço total ao Pai. Maria será sempre o ícone, a fotografia da Igreja. Nela se realizam maravilhas, quando permanece serva dedicada e discípula fiel.
Maria é fotografia, ícone da Igreja no céu, mas profetiza sobre ela o desígnio de Deus: cuidar dos mais empobrecidos. Por mais que amemos Maria, não o realizaremos se não seguirmos seu anúncio: Deus, em sua misericórdia, visita-nos e quer que sejamos nós também atuantes na renovação do mundo a partir dos empobrecidos. Como Cristo ressuscitado entregará o Reino ao Pai, quer que participemos de sua vitória destruindo os laços de escravidão do mundo e que seja vencida a morte, como aconteceu em Maria. Essa é a vitória sobre o dragão que quer comer o filho da Mulher. O devoto de Maria não se perde nem perde o tempo se o dedica a elevar os pobres, destruindo as forças do mal.

(*) Pe. Luiz Carlos Oliveira é missionário redentorista