O maestro e rabequeiro, Jeziel Paiva, foi puro show na apresentação feita com seu grupo, no espaço cultural da Escola Eurípedes Barsanulfo, na última sexta-feira, 10, quando levou ao palco: Travessia: Do Romanceiro a Zé Côco do Riachão'. O espetáculo faz parte do Mês Cultural, idealizado pelo setor de Recursos Humanos da empresa e patrocinado pelo Latícinio Scala, através da Lei Rouanet.
Causos, rabeca, poesias caboclas, histórias, cordéis, epopeias e as músicas dos cantadores e rabequeiros foi o que se viu na noite, prestigiada por um grande número de pessoas amantes da arte. 'Travessia é uma viagem pela nossa cultura popular desde a vinda do romanceiro ibérico ao Brasil até os nossos dias, mostrando as manifestações artísticas populares que foram determinantes na construção do nosso legado cultural.
Utilizando a rabeca, primeiro instrumento trazido pelo colonizador, o espetáculo mostrou os momentos mais significativos da cultura popular, correspondentes aos ciclos do gado, do cangaço, das secas e na relação mais íntima do homem com os sertões.
Na apresentação, obras musicais dos séculos XVIII e XIX, de Zé Côco do Riachão e as poesias caboclas e cordéis de José Pacheco, Zé Laurentino, Pompílio Diniz, Chico Pedrosa, Zé Limeira, dentre outros. A peça contou com as participações especiais dos músicos Marcelo Taynara (violão e percussão) e Carlos Tampa (percussão) e um quarteto de cordas de Ribeirão Preto.
Em mais uma entrevista ao ET, o maestro Jeziel explica “essa travessia traz o romanceiro desde a chegada do colonizador ao Brasil até o Zé Côco do Riachão, um ícone da cultura do Norte de Minas”, explica num sotaque bem mineiro e ressalta “sou mineiro e essa cultura está encarnada em mim, até chamam de Jezicoco de Ribeirão o Riachão. Estes anos todos no Estado de São Paulo não me tiraram o jeitão mineiro, quem nem o Guimarães Rosa: é a travessia.
Aliás o nome do espetáculo é inspirado no conto, Travessia, de João Guimarães Rosa, que é a última palavra do livro Grande Sertão, Veredas. Essa mineiridade é universal”, afirma e completa relatando que descobriu, de fato, sua mineiridade na Bahia.
“- Morei 12 anos na Bahia e foi lá que descobri minha mineiridade, porque eu tive uma formação musical acadêmica, erudita. Eu tenho raízes muito rurais, por causa da minha família paterna, mas isso só veio à tona na Bahia. Só quando saímos de Minas é que vemos o quanto somos mineiros e, tocando com os cantadores no sertão, descobri essa verve popular que havia em mim, aí não parei mais. O erudito foi a formação, a mineiridade cultural, popular é do coração, a gente nasce com isso”.
O espetáculo, que agradou em cheio o grande público presente, enfatiza ainda a ruptura de barreiras entre o erudito e o popular. “Nós mostramos a cultura popular com instrumentos da música erudita (violinos, violoncelo, viola clássica, contrabaixo) ou seja, misturamos a rusticidade da rabeca com a sofisticação da música erudita”, traduz o maestro Jeziel.
A rabeca é um instrumento de origem árabe que foi levado para a península ibérica na Invasão dos Mouros e lá se difundiu. “A partir do século XVI, com o aprimoramento cientifico, criação das universidades, a rabeca foi aperfeiçoada e virou violino que ganhou espaço nas igrejas, teatros, palácios. E a rabeca mesmo continuou popular, um instrumento rústico e que nunca chegou às orquestras, com raras exceções, como é o nosso caso. Eu toco rabeca com a orquestra”.
Destaque para o percussionista Carlos Tampa, cantador de coco que deu um show a parte no espetáculo no trabalho de percussão, mostrando ainda sua maestria no pandeiro e coco, um ritmo tipicamente nordestino.
Na plateia, um grande número de pessoas amantes da boa música e da cultura, louvou o grande espetáculo, dentre elas, a diretora da Escola Eurípedes Barsanulfo, Francine França Amui, que agradeceu ao Laticínio Scala, aos músicos e, ao público em geral, pela doação de produtos de limpeza para a instituição.
Mês Cultural
O Mês Cultural, projeto promovido pelo Tri Ciclo Espetáculos patrocinado pelo Laticínio Scala, terá mais apresentações. Neste sábado, 18, na Casa da Cultura, a comédia, 'Concessa Tecendo Prosa', em dois horários, às 19h00 e 20h30; no dia 25, outra peça teatral, 'Se eu vou sobreviver, não sei', na Escola Eurípedes Barsanulfo e, no dia 1º/11, balé 'Lago do Brasil, uma releitura do Lagos dos Cisnes, um balé dramático em quatro atos do compositor russo Tchaikovsky. Paralelamente, o teatro vai às escolas, com a peça interativa, 'Vamos brincar de brincar'.