Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Sacramento ganha grupo de apoio à adoção

Edição nº 1586 - 01 de Setembro de 2017

Tudo começou quando o casal Raquel Érica e Marcos Gomes Pereira, depois de 15 anos casados, decidiu adotar um filho. Deu certo. Agora em agosto, completamente realizados com a decisão, celebraram um ano que o pequeno José Éder está com eles. Como dizem, depois da adoção, passaram a viver uma felicidade incomum. Mas foi durante o processo que descobriram, por intimação judicial, que teriam que participar dos chamados 'encontros de apoio à adoção', o que foi outra descoberta.

O casal desconhecia o fato que existia no país a Associação Nacional dos Grupos de Apoio a Adoção - Angaad, criada por pais adotivos que sentiam a necessidade de ajuda e orientação. Hoje é uma instituição jurídico-civil que está ligada à Vara da Infância e Juventude, com a finalidade de dar legalidade aos processos de habilitação para adoção. 

“- Assim, por ordem judicial, fomos intimados a participar das reuniões dos grupos que foram formados a partir da criação da Angaad, no caso nosso, deveríamos frequentar as reuniões do Grupo de Apoio à Adoção em Uberaba - Graau,  criado em 2007, a partir do incentivo dado por psicólogas e assistentes sociais da Vara da Infância e Juventude. E ali permanecemos durante dez meses, frequentando as reuniões, realizadas mensalmente”, informa, ressalvando que essa exigência legal é recente.

“- Antigamente, a adoção era bem mais fácil, o casal criava sobrinho, padrinhos criavam afilhados. De primeiro, adotava-se um filho e não contava que ele era adotivo, talvez por medo de discriminação e, muitas vezes, esse filho ficava sabendo não pelos pais que era adotado e, por mais que a família tenha cuidado, amado muito, a vida foi uma mentira. Mas hoje não é assim. Daí a necessidade da preparação, da orientação, do apoio, da ajuda”, pondera Raquel, ressaltando a importância das reuniões. 

“- Durante esse tempo que participamos das reuniões aprendemos muitas coisas. O grupo funciona com uma interatividade total entre as famílias que têm filhos adotivos, troca de experiências com mães e pais dando seus testemunhos sobre os filhos, vivenciando os problemas e buscando soluções, além das dúvidas ligadas às situações jurídicas”, explicou. 

Diante da inconveniência por conta da distância de frequentar o grupo uberabense, mas principalmente devido à procura de casais buscando informações sobre o processo de adoção, com o apoio de outros casais e do Graau, com o apoio de outros pais, o casal criou em Sacramento, no dia 19 de agosto último, o Grupo de Apoio à Adoção de Sacramento - GAAS, denominado,  'Caminhos do Coração, que é uma das exigências legais no processo jurídico de habilitação para adoção. 

De acordo com Raquel Érica, uma das voluntárias que trabalha na coordenação do GAAS, o objetivo é associar, ajudar e orientar pessoas que têm vontade de adotar, que gostam da atitude adotiva e, que, por um motivo ou outro não tomam a iniciativa.

Exemplificando, Raquel revela que segue muito o trabalho de Sávio Bittencourt, que fundou no Rio de o grupo 'Quintal da Casa de Ana', que é referência nacional. “Sávio  conta que adotou uma criança, e quando os amigos iam visitá-los falavam assim: 'Nossa, mas que cargo, hein, coitados de vocês'. E não é assim. A gente adota uma criança porque quer, porque gosta e quer ter um filho. Adoção não é ato de caridade de forma alguma, a adoção é muito mais um ato de amor”, explica.

 

Os critérios para adoção 

O primeiro contato da família adotante com o psicólogo ou assistente social da Vara da Infância e Juventude, ao se inscrever no cadastro, é para provar sua sanidade mental, moral e que estejam trabalhando, independente do valor salarial que recebem.

Ressalta Raquel que “não existe esse negócio de comprovar renda. O importante é você provar que vai cuidar e amar o seu filho. Outra exigência é que o adotante seja, pelo menos, 18 anos mais velho que o adotado. Qualquer pessoa, inclusive solteira, parceiros de união estável de ambos os sexos, acima de 18 anos, hoje podem se candidatar à adoção, desde que tenham sanidade mental e comprove que vão proteger, amparar, educar. Um filho adotivo é planejado e muito amado”, esclarece.

A orientação dada pelos grupos de adoção aos casais adotantes é de não se preocuparem com esse detalhe na hora da escolha. “Embora todos os pretendentes tenham esse direito de escolha, de encontrar nos filhos adotivos todos os predicados que sonham, nossa orientação é desestimular essa preferência, pois quando geramos um filho não escolhemos o rosto, seu nível de inteligência, nem mesmo se vai nascer doente ou não”, pondera.

No cadastro feito na Vara da Infância e Juventude, não é vedado aos pais adotantes manifestarem suas opções de escolha. “Eles podem escolher tudo, idade, sexo, cor, raça... mas correm o risco de ficar a vida inteira na lista de adotante. E, embora o processo seja aberto às partes envolvidas, não há necessidade de saber ou conhecer os pais legítimos. Uma vez adotada, a criança deixa o abrigo, passa a não ter mais vínculo com a família que o entregou para adoção e tem o registro de nascimento alterado, assumindo inclusive a nova paternidade e seus sobrenomes. 

Por fim, diz Raquel que sua felicidade e do esposo hoje é imensa. “Nosso filho veio para nós com cinco anos e foi um encontro de almas. Não consigo explicar com palavras a sensação. Diria que foi como uma gestação. A gente entra no processo e fica à espera. É a gravidez invisível em que a gente tem todo aquele envolvimento emocional, sentimental, psicológico e também judicial. É de fato uma espera, há muito amor envolvido. Para mim, foi como se a vida inteira ele estivesse nos esperando e nós a ele. Não imaginamos nossa vida sem ele. José é uma criança estudiosa, carinhosa, rodeada de amigos, totalmente amor”, finaliza, cheia de alegria.

 O GAAS funciona na rua Capitão Ferreira, 234, com reuniões no terceiro sábado de cada mês. Raquel convida os interessados, informando que o espaço está aberto não apenas aos pais pretendentes à adoção, mas a qualquer pessoa, incluindo psicológicos, assistentes sociais, professores, voluntários. A próxima reunião será realizada no dia 16 de setembro, das 14 às 17h. 

 

O que vale na adoção é o amor

 

A partir da criação da Angaad, a exigência legal, através de uma inscrição na Vara da Infância e Juventude, no fórum da cidade, passou a ser obrigatória para todas as famílias que querem adotar um filho ou filha, pois com a regulamentação da adoção, hoje existe um cadastro nacional de todas as crianças que vivem em abrigos. E Raquel começa desmitificando o desejo de querer adotar uma criança superdotada, de boa procedência, loirinha, bonitinha, etc. 

Uma das orientações mais importantes que os grupos de adoção passam aos futuros pais é que não existe nos abrigos um bebê idealizado. “Os pretendentes, hoje, querem uma criança limpinha, bonitinha, branquinha e que sejam ainda bebês. Essa criança não existe nos abrigos. Na verdade, o que há nos abrigos é o que chamamos de 'adoção tardia', porque são crianças acima de três anos, a maioria pardos, negros, ou seja, não existe esse bebê idealizado”, diz, esclarecendo que o filho ou filha não é escolhido. 

“- Embora usemos a expressão, 'a escolha do filho', as coisas não funcionam assim. Ninguém chega ao abrigo, escolhe e diz: 'Eu quero este ou esta'. Não, o primeiro passo é procurar a Vara da Infância e Juventude e se inscrever no processo de adoção. A partir daí o casal entra num cadastro nacional. E foi assim conosco”, recorda, Raquel, explicando como foram os primeiros meses.

“- O primeiro contato entre pais e filho adotivo é no próprio abrigo. Aos poucos, o filho começou a frequentar nossa casa, conviver conosco, nos feriados, finais de semana. Há um período de adaptação. Nosso filho estava abrigado há dois anos e quando não vinha ficar conosco, permanecia no abrigo. E vivemos essa primeira experiência durante dois meses, até que ele veio definitivamente morar em nossa casa”, conta, emocionada, reconhecendo que esse é um período difícil da adoção. “Esse período é difícil e dolorido, pois a criança imagina sempre que os adotantes estão devolvendo-a ao abrigo”.