Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

'Estou radiante estourando de emoção, somos o melhor dos melhores do mundo...

Edição nº 1575 - 16 de junho de 2017

Com essa frase, Marly Leite, informou ao ET, às 11h57 da manhã do dia 12, a auspiciosa notícia de que o queijo Senzala de mofo branco levou a medalha de Ouro e a de Super Ouro. O único do Brasil com essa medalha”, comemorou. 

No dia anterior, na manhã do domingo 11, via WPP, entre eufórica e apreensiva, Marly Leite informou ao ET os critérios do julgamento: “A avaliação iniciou hoje com os jurados fazendo a pré avaliação que inclui: ver o queijo,  degustar,  saber de onde vem e quem produz se estiver presente.  Aí tomam outro queijo "irmão", fazem uma ficha e levam para uma câmara, aguardando para as avaliações oficiais por categoria, amanhã.  Disseram que são mais de 700 queijos inscritos. Já houve várias desclassificações,  hoje, mas graças a Deus, o nosso queijo, com quatro  tipos de maturação, passaram todos.  Vocês, daí, passando energias positivas...”, pediu Marly, se despedindo.

Na madrugada do dia seguinte, data da divulgação dos resultados, eram 3h53 quando Marly informou ao ET: “O concurso inicia as 10h00 e termina as 11:00. Em Sacramento, serão 5h00h madrugada”, escreveu via WPP. E, às 11h57, emocionadíssima, em mensagem de voz, revelou a boa notícia. “O nosso queijo, o queijo de Sacramento, queijo Senzala de mofo branco levou a medalha de Ouro e a de Super Ouro. O único do Brasil com essa medalha. Estou radiante, estourando de emoção.  Minas Gerais está levando 11 medalhas para o Brasil...”, disse com a voz embargada de emoção. 

Além de Marly Leite, vencedora Super Ouro, Minas Gerais trouxe outras dez medalhas, sete de prata para os queijos:  Canastra, produzido em  Capela Velha; Serro, de  casca lavada, da Cooperativa do Serro, curado na França por Lafinarde; Serro,  casca ácaros, da Cooperativa do Serro, curado na França por Lafinarde; Canastra, do Vale da Gurita; Canastra, de Reinaldo de Faria Costa; Kankrej (Guzerá), de  Túlio Madureira e o Santo Casamenteiro, da Queijos Cruzília.  

E, medalha de bronze para os queijos Sabores do Sítio, extra curado, de Lúcia, Campo das Vertentes; Gir, de Túlio Madureira e Alagoa Grande, da  Queijo d'Alagoa, de Osvaldo Martins de Barros Filho. 

Além dos medalhistas,  quatro mineiros foram homenageados pela Guilde International des Fromagers: o superintendente técnico da FAEMG, Altino Rodrigues Neto e os produtores de queijo: Mariana Resende da região do Campo das Vertentes; Roberto de Castro, da região do Serro e João Leite, da região da Canastra. Eles foram indicados pela diretora da ONG SertãoBras, Débora Pereira, que é associada à Guilde Internacional. 

“- O Guilde é como se fosse uma maçonaria do queijo: tem entre seus associados, indústrias multinacionais e pequenos produtores, que se ajudam mutuamente. A entidade faz lobby internacional do queijo ao redor do mundo”, explicou Débora. 

Segundo ela, o presidente da Guilde, Pierre Androuet, se mostrou empenhado em promover o queijo brasileiro e anunciou a realização de um evento da entidade no Brasil, em 2018. (Fonte: Faemg/Redação ET)

 

A trajetória de persistência de Joel e Marly 

Joel Urias Leite e Marly Cândida Cunha Leite são pioneiros na fabricação do Queijo Minas Artesanal. São 13 anos de trabalho, desde que construíram a queijaria no Caxambu e iniciaram a produção, em meados de 2004. 

Três anos depois, o queijo do Caxambu estava pronto para receber a certificação. O IMA iniciou o cadastramento dos produtores. O Queijo Minas Artesanal criado pelo governo de Minas com as marcas, 'Serro', 'Araxá', 'Canastra' e 'Cerrado', cada marca representando uma microrregião. Os queijos fabricados na fazenda Nova Califórnia, região do Caxambu, município de Sacramento, fazem parte do Queijo Minas Araxá, porque pertence àquela microrregião, juntamente com as cidades de Araxá, Tapira, Pratinha, Conquista, Ibiá, Campos Altos, Perdizes, Pedrinópolis e Santa Juliana.

  Na edição do ET, nº1036, de 11 Fevereiro de 2007, noticiamos que “o casal de fazendeiros, Joel Leite e Marly receberam em sua fazenda, no dia 8 de fevereiro de 2007, um evento especial do Programa Queijo Minas Artesanal Araxá, com a presença do presidente da Emater/MG, José Silva. Esse foi o primeiro passo para o cadastro de seu queijo artesanal que, para ser comercializado tem que atender as exigências da lei estadual 14.185/2002, definidos pelo IMA, EMATER, Secretaria de Estado da Agricultura, SEBRAE Minas e Sistema Cooperativo de MG (Sescoop)”. Destaque-se que naquele ano, a microrregião de Araxá apenas dois produtores de Queijo Minas Artesanal foram cadastrados: Joel Leite e Alexandre Honorato.

De Posse da certificação, Joel resolveu partilhar a experiência com os produtores de leite da vizinhança. E, no dia 26 de setembro de 2008, abriu as portas da  fazenda Nova Califórnia para  a I Festa do Queijo Sacramentano e o I Concurso de Queijos Sacramentanos, reunindo produtores de várias regiões do município, Pinheirinho, Desemboque, Soberbo, Sete Voltas, Pinheiro, Moreira, Quenta Sol, Gameleira, Tamanduá, Jaguarinha e Santa Bárbara, com a participação de 14 produtores”. 

 Na oportunidade, Joel revelou suas boas intenções: “É um orgulho muito grande, ter podido buscar o povo, reunir para fazer essa festa e falar de cooperativismo e melhoramento do queijo com mais qualidade, por isso está nascendo aqui a primeira Festa do Queijo Sacramentano”, justificou, afirmando que o encontro é também uma forma de divulgar o produto e aprender mais sobre ele. “Só que preciso do apoio de todos desde o tirador de leite, do produtor, do poder público, do comércio”, afirmou em entrevista ao ET, que esteve presente ao evento.  

E disse mais, “Temos aqui uma indústria familiar, trabalhamos em família. O queijo é certificado, só que ainda não tenho condições de embalar aqui e não tenho mercado, por isso o queijo vai para o Entreposto de Laticínio Só Nata Ltda, de Araxá, e de lá ele sai para o mercado, como um produto de Araxá. Espero que o futuro prefeito do município se interesse pelo programa e nos apoie no projeto”, suplicou aos políticos que se elegeriam nas eleições do mês seguinte. Declarando a vontade de orientar outros produtores para qualificar o queijo, Joel finalizou, profetizando: “Faz três anos que estou com esse projeto e agora é só crescer”. 

Passados quase dez anos, o apelo do produtor não surtiu o efeito esperado. A I Festa do Queijo foi a primeira e única e o queijo que hoje é considerado “o melhor dos melhores do mundo”, continua indo para o entreposto araxaense. Se houve um segundo concurso, o ET não foi informado.  

 

Concursos

Em 16/10/2009, Joel Urias Leite foi medalha de Prata (2º lugar) no III Concurso Regional dos Produtores de Queijo Minas Artesanal, em Araxá, concorrendo com 16 participantes na categoria cadastrados.

Em 2016,  Joel Leite conquistou outra medalha de Prata, no X Concurso do Queijo Minas Artesanal em Araxá, com uma diferença de apenas  0,6 perdeu  o título de campeão.  


Marly Leite é recebida com honras em Sacramento

Marly Leite, vencedora do Concurso Mundial de Queijos na França, chegou ao Brasil na madrugada dessa quinta-feira 15, e foi recebida com honra pelas autoridades do município e familiares, no trevo de entrada da cidade, às 12h, e acompanhada em carreata pelas ruas da cidade, ao lado do esposo, Joel Urias Leite. À tiracolo, Marly ostentava orgulhosa as duas medalhas, super ouro e ouro, feito inédito no país. 

Saudoso, o esposo Joel Urias Leite e os filhos Ravana e Reickman receberam Marly aos beijos e abraços, sob os aplausos do prefeito Wesley De Santi de Melo, acompanhado da primeira dama, Teresa Abrate, o vice Juninho Trevisan, vereadores Luiz Devós e Henrique Spirandeli, o secretário da Agricultura e Pecuária do município e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, Hermógenes Vicente Ribeiro, os pais de Marly, Cândido Clementino e Marta, além de um pequeno público. A alegria era geral. Fogos de artifício saudaram o feito inédito do casal Joel e Marly.

 Após emocionante recepção, Marly  e Joel passaram aos filhos, Ravana e Reickman, o belo troféu com as palavras: “Vocês são a quinta geração e cabe a vocês continuar a nossa história”. Em seguida, todos saíram numa carreata pela cidade, Joel e Marly em carro aberto, ornado com a bandeira do Brasil e logo atrás as bandeiras de Minas Gerais e Sacramento.

 O casal Joel e Marly eram a mais pura alegria. “É uma felicidade muito grande trazer esse prêmio para Sacramento e saber que é fruto do nosso trabalho, uma herança de família, que vem de geração a geração. Mas o peso da responsabilidade é enorme, porque tem a união de esforços de uma equipe muito grande. Há muita gente por trás desse queijo que chegou à grande vitória”, comemorou Marly, seguida pelo marido: 

“- Estou muito feliz. Imagine como eu fiquei, ela lá e eu aqui e as notícias chegando. Quando recebi a notícia da premiação,  a emoção tomou conta. E hoje só tenho a agradecer a Deus, aos nossos avós, bisavós, pais, que nos passaram o ensinamento de como fazer o melhor queijo do mundo”, agradeceu com razão. 

 

“...Eu dizia que queria ser grande”

Joel começou cedo a lida com queijo.  “Comecei a gostar de queijo com minha avó, dona Bárbara. Eu tinha uns sete anos. Não gostava de estudar e fui crescendo, meu pai perguntava o que eu queria ser e eu dizia que queria ser grande. E desde muito moço comecei a perceber a pouca valorização do nosso queijo. Vinham os compradores/atravessadores buscar pra vender em São Paulo. Pra nós não tinha valor, mas para eles tinha. E, hoje graças a Deus, estamos no caminho certo. Sempre lutei para superar, mas nunca esperava chegar a tanto, com um prêmio internacional”, reconheceu.

 E o sonho de fundar a Associação dos Produtores de Queijo de Sacramento, continua sendo sonhado. “Mais do que nunca. Agora eles têm no que acreditar, quero que  todos os meus companheiros que produzem o queijo com tanta dificuldade e não são reconhecidos, tenham melhores oportunidades. O queijo mineiro legítimo vem de pequenos produtores, que trabalham de sol a sol, de domingo a domingo  e não têm nenhum incentivo e aí vem os  atravessadores vêm buscar o queijo.   Eu espero que agora todos despertem para novas possibilidades”, conclamou Joel.

 Em 2004, quando foi cadastrar para receber a certificação, Joel Leite poderia ter escolhido Canastra, Sacramento ou Araxá, e optou por Araxá por conta do apoio que recebeu daquela cidade, o que não aconteceu em Sacramento, quando era prefeito, 

“- Na época, tínhamos os órgãos aqui, mas faltou o apoio do poder público, e que me chegou de Araxá. Eu consegui muito apoio da Prefeitura de  Araxá,  que acreditou nessa joia que tínhamos aqui na região, e entraram com tudo. Eu era sozinho e os recursos eram poucos. Por isso nosso queijo hoje sai com o selo de Araxá, mas sai direto da fazenda para o mercado em Sacramento, nosso maior consumidor e na região”, explica, acrescentando que só lhes falta  o  SISB-POA (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal),  do Ministério da Agricultura, para comercializar o Queijo QL em  todo o Brasil e até no exterior”

 

Uma grande história...

Para o prefeito Wesley De Santi, a sua alegria foi imensa ao saber que um queijo de Sacramento venceu um concurso internacional, o melhor queijo do mundo. Esse queijo sai de Sacramento, onde Joel e Marly têm uma grande história. Eles acreditaram, e porque acreditaram estão aí vitoriosos. Para nós, sacramentanos, é motivo de orgulho. Estamos aqui numa simples homenagem, mas é o reconhecimento de um trabalho”, afirmou.  

Questionado sobre a possibilidade de incrementar políticas públicas para ajudar os pequenos produtores de queijo no município, o prefeito respondeu que o município tem tudo para isso. “Temos o IMA, temos a Emater, temos a Secretaria de Agricultura, mas a vontade tem que partir dos produtores. E essa premiação do Joel vai servir de incentivo, para mostrar-lhes que o seu produto tem valor. Sem dúvida, depois dessa premiação,  esse queijo vai atingir um valor altíssimo. Vamos através da Secretaria de Agricultura um trabalho de conscientização, mobilizar os produtores para criar uma associação forte, porque exemplo nós temos”, afirmou.