Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

‘Encontros com Cora Coralina’ reúne elite cultural na Casa da Cultura

Edição nº 1564 - 31 de Março de 2017

Noite de cultura, com poesia e música, na sexta-feira 24, no anfiteatro da Casa da Cultura Sérgio Pacheco, no lançamento do livro, 'Encontros com Cora Coralina de Goyaz', de Luiz Fernando Valladares. 

Realizado pela Secretaria de Cultura e Turismo do município, o evento reuniu um seleto público amante da poesia, abrilhantado de boa música com a Orquestra de Viola de Sacramento, sob a regência do professor Cleomar Otaviano Furtado, e pela leitura de três poemas da escritora goiana, pelo Prof. Walmor Júlio Silva. 

O subsecretário de Cultura, Carlos Alberto Cerchi abriu a noite, destacando a importância do lançamento do livro. “Cora Coralina sitiada na cidade de Goiás, poderíamos dizer, pouca coisa tem a ver com Sacramento, mas tem a ver, sim, porque éramos de Goiás. O julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas, depois, Julgado do Desemboque e hoje,  Desemboque,  era o 'nariz', que Minas Gerais hoje tem e, que chamamos de Triângulo Mineiro e, que pertenceu a  Goiás até 1816'’, narra Berto, lembrando que Cora Coralina passou por Sacramento. ‘‘Éramos goianos e Cora Coralina, por incrível que pareça, passou pela estação do Cipó, quando saindo de Goiás, veio até Araguari a cavalo, onde embarcou na histórica Maria Fumaça, no ramal Araguari-Ribeirão Preto, passando pelo Cipó”, disse. 

 Para Berto Cerchi, o livro de Valladares traz importante contribuição para Sacramento. “Uma profunda reflexão do que podemos e devemos fazer com a nossa escritora maior, Carolina Maria de Jesus, que é fazer de Sacramento uma referência no país, pelo volume de sua obra”, comparou, chamando a atenção para três itens que Cora Coralina deixa para reflexão: a condição da mulher, a condição humana e a valorização da cultura”.

 Dimas da Cruz Oliveira, representando a Academia de Letras do Triângulo Mineiro, enalteceu Sacramento pelos eventos de cunho intelectual. “É uma alegria muito grande ver esse amor que nossa região e sobretudo Sacramento manifestam pela cultura intelectual e, a disposição com que todos acolhem aqueles que se propõem a escrever livros”, disse, parabenizando o autor. “Falar de Cora Coralina é recordar a presença de Francisca Júlia, Cecília Meirelles e tantos outros perfis femininos que marcam nossa história cultural”, elogiou. 

 

Valladares fala da obra

Para Luiz Fernando, a presença do público é um encontro do povo com a cultura na sua difusão. “Importante lembrar que Desenvolvimento Econômico e Cultura, é uma coisa que só se obtém com o desenvolvimento cultural, porque a cultura é o laço que une todos os segmentos produtivos, econômicos e administrativos para promover o crescimento voltado para o homem, porque o resto é só progresso. Desenvolvimento é isso: servir o homem, o ser humano”, frisou, agradecendo ao povo sacramentano e reconhecendo que “o que faz o escritor escrever é o povo, porque dele emana o poder, e é em nome dele que tudo deve ser exercido”.

Sobre o seu livro, escrito em mais de 600 páginas, informa que o conteúdo está dividido em seis encontros.  “É um livro grosso, mas é um livro humilde, onde pretendi, primeiro, mostrar como descobri Cora, através de um conto, “Tragédia na roça”, publicado em 1910, no Anuário Histórico Descritivo do Estado de Goiás, que por ser uma literatura muito forte e realista, me chamou a atenção e ninguém falava em Cora, porque ela saiu de lá fugida, com um homem casado e grávida, coisa inadmissível em 1910...”.

 Depois de ler o conto, Valladares procurou Cora, que estava com o livro “Poemas dos becos de Goiás e estórias mais”, pronto e impresso, lançado quando ela tinha 76 anos. “Procuramos Cora e a convidamos para entrar num Grupo de Escritores Novos (GEN) que criamos em Goiás. Eu tinha 20 anos e ela 76 e aceitou de pronto”, lembra, e dá uma informação desconhecida por muitos: “O livro 'Poemas dos becos de Goiás e estórias mais' foi publicado um ano antes, quando ela tinha 75anos, pela editora José Olympio, que apenas emprestou o selo. Cora pagou a edição, por isso o livro não foi divulgado e, por isso, o Brasil se calou tantos anos em relação à sua poesia instigante, que é uma poesia ora intimista, ora subjetiva, ora épica”, resumiu, falando um pouco dos demais encontros. 

O livro de Luiz Fernando Valladares é uma pequena enciclopédia sobre a vida da escritora goiana. Lançado pelo editora Kelps, está recheado de informações e escritos de pesquisadores, musicistas, estudiosos e artistas e, de informações históricas da formação e desenvolvimento de Goiás e, aspectos folclóricos e culturais  que datam desde o final do século 19.

 Sobre a obra, a escritora mineira de Pratápolis, Ely Vieitez Lisboa, formada pela PUC Minas e residente em  Ribeirão Preto (SP) escreve: “Não é um livro só para ser lido, mas sim um verdadeiro manual, riquíssimo para consultas, teses e trabalhos acadêmicos no futuro”.  

 

Quem é o autor

Luiz Fernando Valladares Borges é carioca de nascimento (1º/06/1942) e sacramentano de coração. Filho do médico José Valladares da Fonseca e Alice Borges Valladares. Fez os estudos primários em Sacramento, o ginasial em São Paulo, SP, concluindo o científico no Lyceu de Goiânia, onde prosseguiu os estudos superiores.

Luiz Fernando é bacharel em Direito pela Universidade Católica de Goiás. Foi professor da Universidade Federal de Goiás e procurador do Estado. Foi presidente do Conselho Estadual de Cultura e da União Brasileira de Escritores de Goiás e membro do Conselho Municipal de Cultura. Organizou, juntamente com os escritores Miguel Jorge e Anatole Ramos, a Antologia do conto goiano, em 1969. Já escreveu e publicou as seguintes obras:  Corpoema; Verde Novo;  Das raízes, dentre outros. 

Seu pai, Dr. José Valadares da Fonseca, foi prefeito de Sacramento. Sua eleição se deu nas  Eleições Gerais Constituintes e assumiu a Prefeitura, no  dia 2 de dezembro de 1946, ao lado do vice, Assyncrito Natal (Tim Tim).  

Dr. José Valadares da Fonseca não nasceu em Sacramento, mas muito fez em seu governo. Destacam-se a reforma na Usina Hidrelétrica Cajuru, que melhorou toda iluminação pública da cidade, levou a educação na zona rural e o incremento à saúde pública. Casado com Alice Soares Valladares, o casal tem três filhos, Fernanda, Fernando e Maria Luísa.