Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Vera Eunice, filha de Carolina, quer manuscritos da mãe em sua terra natal

Edição nº 1530 - 12 de agosto de 2016

Vera Eunice de Jesus Lima, filha da escritora sacramentana, Carolina Maria de Jesus, depois de visitar o Arquivo Público de Sacramento, onde estão guardados os cadernos com os manuscritos do diário que originaram o livro, 'Quarto de Despejo', em carta ao 'Povo Sacramentano', manifestou sua vontade de que os originais permaneçam em sua cidade natal. Veja abaixo alguns trechos da carta de Vera Eunice.


Ao Povo Sacramentano

Meus cumprimentos ao povo sacramentano.
Vim a Sacramento a fim de verificar sobre a conservação do acervo da escritora Carolina Maria de Jesus.
Tenho ido a vários eventos: palestras, inaugurações, feiras do livro, assistir a curtas metragens, lançamento de livros, lugares onde encontro várias pessoas que se interessam em saber peculiaridades  a respeito de Carolina Maria de Jesus, principalmente sobre a cidade natal da escritora.
O acervo de Carolina está distribuído entre a Biblioteca Nacional, no Instituto Moreira Sales, ambos no Rio de Janeiro, no Museu Afro Brasil, em São Paulo, e uma boa parte, talvez a mais importante, em Sacramento, Minas Gerais, cidade natal da escritora.
Há uma enorme insistência por parte das pessoas que essa parte do acervo, a qual se encontra em Sacramento, seja levada para a Biblioteca Nacional ou para o Instituto Moreira Sales, no Rio de Janeiro. Alegam que o material estaria em um local mais  adequado para a conservação dos documentos, vários livros inéditos, recortes de jornais, revistas, fotos e quadros.
Eu, Vera Eunice de Jesus Lima, filha da escritora sacramentana, Carolina Maria de Jesus, não quero que o acervo,  o qual foi doado a Sacramento,  seja retirado da cidade. Eu, enquanto filha da escritora, tenho a maior convicção de que esse patrimônio literário fique em sua cidade natal.
Alguns historiadores como Sérgio Barcellos, José Carlos Sebe Bon Mehy, o professor Uellinton Farias, a atriz Maria Gal, Donizete de Aquino, meu genro, e minha filha, Marisa Regina Lima, pessoas que estiveram visitando Sacramento, concordam que o acervo de Carolina permaneça na cidade natal da escritora.
Sei o quanto os amigos Carlos Alberto Cerchi e Maria de Fátima Arcanjo Sampaio batalham a fim de que o acervo de Carolina permaneça em Sacramento.
Nessa minha vinda à cidade nos dirigimos ao Arquivo Público de Sacramento e fiquei satisfeita com o que presenciei. O arquivista, Luciano Gobbo, e a diretora de Cultura, Lívia Pereirinha, nos receberam muito bem. Sentimos uma  grande preocupação de ambos em manter conservado o acervo da escritora, mostrando-nos como os materiais se encontram bem acoplados e guarnecidos em caixas apropriadas e envelopes especiais, contrariando rumores de que estavam mal conservados dentro de uma 'cadeia',  em Sacramento, cadeia esta que se transformou no Arquivo Municipal da cidade.
Conversei com o prefeito Bruno Cordeiro, o qual me informou que conseguiu que o acervo seja digitalizado através do professor Carlos Alberto Cerchi, em Uberaba.
Solicitamos que haja um espaço para que o material da escritora possa ser exposto, a fim de que todos possam apenas visualizá-lo.
O professor Uellinton Farias, analisando a situação, pensa que deva haver um espaço específico na cidade dedicado à escritoria Carolina Maria de Jesus, com os materiais digitalizados, os livros da escritora, quadros, homenagens, afim de que pessoas de todos os lugares possam ter uma referência quanto vierem a Sacramento pesquisar a autora, e que esse acervo seja preservado e muito bem conservado.
Observei que em todas as vezes que visito a cidade, noto a preocupação quanto a preservação do acervo, tanto das pessoas, da Prefeitura e dos arquivistas que cuidam desse material.
Sei bem da importância de que o acervo permaneça na cidade, pois muitas pessoas vêm pesquisar e fico feliz em saber que Sacramento é mencionada pelos lugares onde visito.
Fiquei emocionada ao ver a placa na praça do bairro Chafariz com os dizeres: “Aqui nasceu Carolina Maria de Jesus”. Também me impactou a majestade da Escola Estadual de Educação Profissional, de ensino médio,  que leva o nome da escritora. E me admirei com a construção e pelo espaço onde futuramente os alunos, além de se aperfeiçoarem profissionalmente, poderão manusear a terra plantando e produzindo um complemento da merenda escolar.
Esteve em Sacramento a atriz Maria Gal que está produzindo o filme longa metragem sobre a escritora sacramentana, Carolina Maria de Jesus.
O roteiro do filme engloba a cidade de Sacramento, pois se inicia com o livro diário de Bitita.
Junto a ela veio também o professor Uellinton Farias que está escrevendo um livro sobre Carolina Maria de Jesus, o qual abrange sacramento desde o século XIX.
Finalizando, agradeço a todos os sacramentanos, em memória da escritora Carolina Maria de Jesus, esperando que o atual prefeito e outros que virão futuramente, continuem com o processo de preservação do acervo da escritora.
Esse é um desejo meu, da família da escritora, dos brasileiros, das várias Carolinas que encontro, da mulher negra, dos afrodescendentes e de boa parte da imprensa internacional.

NR - Importante destacar que o acervo de Carolina Maria de Jesus, guardado no Arquivo Público de Sacramento, foi organizado em meados de 2014, pelo Prof. Sérgio Barcellos (UFRJ), durante uma pesquisa para o projeto, “Vida por escrito”, patrocinado pela Funarte. Na ocasião, Barcellos teve a ajuda da então acadêmica em História, então, Eliana Vilas Boas, funcionária do Arquivo. Todo o processo de organização pode ser comprovado na página, 'Vida Por Escrito - Portal bibliográfico de Carolina Maria de Jesus' (www.vidaporescrito.com)