Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Recicladores vivem dias de angústia por medo de perderem o emprego

Edição nº 1354 - 20 Março 2013

 Segundo o presidente José Amâncio, PMS vai terceirizar o serviço

 

José Amâncio da Silva Filho, 65, presidente da Associação dos Recicladores de Materiais de Sacramento (Aremas), procurou o jornal esta semana para falar dos problemas que a Associação vem enfrentando nos últimos meses e agora os catadores  vivem o pesadelo de perder o emprego, visto que já foram avisados que a Prefeitura vai terceirizar o serviço.

“- O pessoal diz que não vai sair. Somos 17 pessoas que trabalhamos lá todos os dias, faça chuva, faça sol. Eles acham que têm o direito de continuar lá, depois de tantos anos separando lixo. Estamos preocupados e com medo de ficar sem o serviço”, afirma José.

A Aremas Reciclagem é  registrada no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, sob o nº 14.128.593/0001-80, datado de 04/08/11, tem sua sede na zona rural,  rodovia Antenor Duarte Vilela, Km 2, no lugar conhecido como Lixão. 

“- Na verdade, a Aremas foi fundada há muito mais tempo, mas só regularizada com CNPJ e os demais papeis, em 2011. Antigamente já existia o grupo, uma associação dos recicladores,  só que não existia no papel, existia de boca, entre nós, pra fazer o acerto. Mas aí começou uma cobrança da área de meio-ambiente da Prefeitura, então, demos andamento nos papéis e legalizamos a associação. Foi bom, porque aí passou a ter uma parceria, a prefeitura nos fornecia um pouco do óleo, energia, água, manutenção do trator e, todos os meses recebíamos uma cesta básica, além de um apoio da Usina de Igarapava, que nos dava um suporte com equipamentos de proteção e orientação”, afirma.

De acordo com o presidente José Amâncio, atualmente , só a água e energia continuam sendo fornecidas. “No tempo da política, o Dr. Bruno foi lá, o vice dele também, e  prometeram nos ajudar o máximo que pudessem, prometendo melhorar a estrutura pra nós  trabalharmos. Hora nenhuma falaram em  nos tirar de lá. Agora, nem o prefeito nem o vice voltaram lá e pararam de nos ajudar. Cortaram o óleo do trator, as cestas básicas. Nem a limpeza do resto do lixo a prefeitura está fazendo. E até o lixo hospitalar que chega aqui toda quinta-feira e que era retirado a cada 20, 25 dias no governo anterior, não foi mais coletado. Está ali guardado.  E agora, querem nos tirar de lá”.

Segundo o presidente, a Prefeitura vai licitar o serviço. “Eles nos chamaram e falaram que vão colocar uma firma pra fazer o serviço e que, às vezes, a empresa pode nos dar serviço. Só que todos nós, estamos acostumados com o nosso jeito de trabalhar e repartimos igualmente todo o resultado do produto que é vendido, descontadas as despesas e as faltas”, explicou, ressaltando que há regras na associação: “Aqui tem regras, tem horário, se a pessoa faltou, se não for por doença, é descontado”, ressalta.

 

Nas atuais condições, apenas 40% do lixo é aproveitado

 

O ET foi ao local conversar com os recicladores. De acordo com o presidente José Amâncio, o trabalho no lixão é feito dentro das condições oferecidas. “Trabalhamos com as condições que temos. Nesse tempo de chuva perde muito lixo. Chegam diariamente cinco, seis caminhões de lixo que são despejados a céu aberto. Vem a chuva e molha tudo. Tem coisa que se molhar ou chegar sujo, se perde, como o papel, papelão, por exemplo”, explica. 

Outro fato que contribui para a perda do lixo é o falta da coleta seletiva. “Quando o Baguá fez aquela campanha da separação do lixo seco e úmido, foi muito bom. Vinha mais de 90% separado. Depois que parou a campanha, parece que o povo esqueceu, aí danou tudo outra vez. A gente até largou a esteira, porque nela a gente separava papel, lata, vidro, plástico, cada um pra um lado, com o lixo misturado desse jeito não dá pra usar a esteira”, justifica.

 O ET constatou no local, em um saco de lixo recém despejado pelo caminhão: restos de comida, papel higiênico, garrafas, vidro, latas, papel, tecido, tudo misturado. “Isso aqui não serve e, infelizmente chega muito lixo assim”, lamenta José, ressaltando a importância de um grande barracão que seria construído no local para o aproveitamento do lixo orgânico para adubo. “Só aproveitamos 40% desse lixo, mas se tivéssemos o barracão, a coleta seletiva nas ruas, 90% seria aproveitado. E me vem agora a dúvida, se tercerizar, a Prefeitura vai construir o barracão para a empresa, por que não prá nós?

Para Paulo Rodrigues, 58, reciclador há 16 anos, o lixão só mudou de lugar. “Com a Associação teve melhorias pra nós, mas o lixão desse jeito, ele só mudou de lugar, porque o que não aproveita tem que ser retirado e levado para o aterro. O ano passado essa limpeza era feita a cada 15 dias, tirando daqui e levando para o aterro. Mas olha lá o monturo (mostrando a montanha de lixo), este ano a Prefeitura só veio aqui uma vez”, e com esse tempo de chuva, vai molhando tudo e estragando”, denuncia. 

Paulo Rodrigues explicou também que deixaram de fazer o adubo orgânico por falta de condições. “Não tem como fazer o adubo sem um barracão protegido. No começo, a gente levava de carrinho todo o lixo orgânico, arrumávamos nos canteiros, nas leiras, só que virávamos as costas os urubus baixavam e destruíam tudo. Nos falta um barracão protegido com tela para evitar os urubus”, reclamou.

O atleta Alexandre Luiz dos Santos, há quatro meses está no trabalho de reciclagem, conciliando os treinos como corredor com o trabalho de reciclador, e é hoje o tesoureiro da associação. “É uma situação complicada. Como eu ainda não tenho o apoio no esporte,  fui trabalhar lá pra tratar da família. Sou um atleta, mas sobrevivo da renda que vem de lá há quatro meses  e estou vendo  as dificuldades que passamos. E agora, infelizmente,  nos chamaram para uma reunião e deram a triste notícia, de que não temos condições de continuar lá”, afirmou.

De acordo com Alexandre, a prefeitura deveria buscar um acordo com os recicladores. “Trabalhamos com a estrutura que nos foi oferecida, se melhorarem para nós, podemos melhorar o serviço ou então eles fazerem um acordo, porque tem gente que está lá há muitos anos vivendo disso. Acho que é injusto. Vão ter a promessa de continuar trabalhando para a empresa, com um salário justo? Vão ser indenizados? ”, questiona.

Questionado sobre a ajuda que recebiam do Consórcio da UHE Igarapava, José informa que pararam de ajudar. “Eles forneciam os equipamentos de proteção individual (EPIs), mas pararam porque não tínhamos notas fiscais para fornecer. Mas agora já temos e podemos retomar essa ajuda, já estamos providenciando. Antes tínhamos também uma pessoa da Prefeitura para nos orientar  como fazer as coisas. A gente vai hoje, vai amanhã e as coisas não andam. A gente precisa de ajuda para nos organizarmos melhor...”, finaliza o presidente.

 

Ouvindo o outro lado:

Prefeitura vai mesmo licitar empresa

 

A assessora de comunicação da Prefeitura, Mara Santos, respondendo a emeio do ET, disse que a Prefeitura vai mesmo licitar empresa para administrar a Usina de Compostagem da Prefeitura, inaugurada no governo do ex-prefeito Wesley De Santi de Melo, e hoje a cargo da Associação dos Recicladores de Sacramento. 

Veja a seguir:

 

ET - É verdade que vão licitar o serviço da Usina de Compostagem de Lixo da Prefeitura?

PMS - Sim. Existe um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) não cumprido pelas suas administrações anteriores. O Município tem a obrigação de encaminhar o lixo não reciclável a local licenciado. Empresa que tenha aterro controlado será licitada para receber o nosso lixo, até que  a Prefeitura tenha condições de executar a atividade.

 

ET - E o que vão fazer com a associação existente, que trabalha no local? 

PMS - Muito interessante e importante este questionamento, uma oportunidade para que a coletividade saiba que a Associação não está legalizada. Não há nenhum termo do seu relacionamento com a Prefeitura. Diante da situação, duas reuniões já foram realizadas entre a Administração/Meio Ambiente com os trabalhadores/associados. Inicialmente, a proposta é de terceirizar e estes trabalhadores atuarem junto à empresa que vencer a licitação. Ressalte-se que trata-se apenas de uma proposta na busca de solucionar a questão e garantir mais dignidade a tais trabalhadores. Hoje, para se ter uma idéia, os ganhos destes cidadãos não chegam a um salário mínimo mensal.  A intenção, portanto, é estudar em conjunto com a Associação uma forma de garantir a reciclagem e os postos de trabalho, garantindo ao trabalhador salário digno e outros benefícios, como ticket alimentação, direitos trabalhistas, previdência, etc.

 

ET - Por que o lixo hospitalar não é recolhido há mais de três meses?

PMS - O lixo hospitalar não é recolhido há muitos meses, o que incomoda em muito a atual Administração de Sacramento que vem se movimentando no sentido de garantir tal serviço de importância ímpar. O serviço foi parado porque a empresa que prestava serviço no governo anterior (prefeito Wesley e vice-prefeito Pedro Teodoro) se recusou a fazer o aditivo proposto pelo atual Governo (Bruno Cordeiro e Geraldo Majela)  em função da falta de pagamentos pela Prefeitura no mandato anterior. A dívida/ inadimplência é da ordem de R$ 20 mil. A solução passa pela licitação do serviço, o que está sendo providenciado e que demanda tempo de tramitação.