Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Paulo Henrique João: O rei do abacate

Edição nº 1391 - 06 Dezembro 2013

Seu nome, na verdade, são três nomes próprios, Paulo Henrique João, fruticultor que chegou a Sacramento na década de 90 para se dedicar à cultura do abacate. Paulista de Jardinápolis, há 20 aportou próximo ao povoado da Sete Voltas fugindo da cana. “Éramos produtores de abacate. Veio uma crise no setor e junto com ela chegou a cana. Arrendamos nossas terras para essa cultura e viemos para Sacramento plantar abacate”, contou na sua bonita história de vida. Hoje, aos 40 anos, Paulo está entre os dez maiores produtores de abacate do país e está investindo na expansão e diversificação do cultivo de frutas, através de parcerias. Mais que isso, Paulo Henrique está instalando na cidade um centro de distribuição e a sede da Associação Brasileira dos Produtores de Abacate, da qual é presidente, que vai funcionar no prédio localizado na praça Getúlio Vargas, nº 27, (Laboratório Labieno Soares) recém adquirido por Paulo  Henrique. O ET chegou a Paulo Henrique através dos amigos, Vani Ramos e Adalberto Lenza (Coelho), que gentilmente abriu suas portas para a entrevista com o simpático Paulo, dono de um  conhecimento muito grande sobre fruticultura. “Sou produtor de abacate, é o que sei fazer, eu era criança e já ajudava meu pai a fazer mudas de abacate”, disse no final da entrevista... Veja.


ET - Vamos então voltar aos seus belos 20 anos, não que os 40 também não o sejam... Mas, ali na flor da juventude, já veio para Sacramento decidido a cultivar abacates?

Paulo Henrique - Sim, já vim decidido a cultivar abacate. Como a cana estava entrando em Jardinópolis, optamos por cana lá e viemos plantar frutas aqui. Iniciamos com o abacate, mas hoje já estamos cultivando mangas e citrus (mexerica e laranja). Mas na verdade, desde 1981, meu pai, Pedro João, tinha interesse em adquirir terras por aqui, o que aconteceu em 1993, sabendo desde já que as terras no município de Sacramento eram propícias para o abacate. 


ET - Chegou sozinho ou trouxe mais alguém da família, esposa, filhos?...

Paulo Henrique - A princípio, sim. Depois vieram duas irmãs, esposa e filha, que vivem na fazenda comigo, próximo ao povoado das Sete Voltas, que cuidam da parte burocrática da empresa. Casei-me aqui na região, com Priscila Luis de Freitas, de Delfinópolis, e temos duas filhas, Maria Paula e Maria Fernanda. E, para alegria da família, minha mãe, Sueli Marin João, muda-se para o município de Sacramento no início do próximo ano. 


ET – “Nesta terra em se plantando tudo dá...” Alguém já disse isso há mais de 500 anos. Por que nossas terras são propícias ao cultivo do abacate?

Paulo Henrique – Especialmente pela altitude. Em Jardinópolis, a 590 metros, produzíamos uma fruta mais precoce. Aqui em Sacramento, a 900 m e em Sete Voltas a 1.200 m o abacate é mais tardio, favorecendo períodos diferentes de safras. Aliás, nossa mudança foi intencional, saímos da produção precoce para a tardia, porque a produção daqui sai fora da safra de São Paulo, dessa forma, o mercado está sempre abastecido. Na verdade, temos uma produção fora de época, ou melhor, produzimos o ano inteiro pelas diferentes variedades que cultivamos. 


ET- Qual o ciclo da produção de uma lavoura de abacate e quantas colheitas já fizeram nesses 20 anos?

Paulo Henrique - Abacate tem um ciclo de doze meses, isto é, uma colheita por ano. Dessa forma produzimos abacate o ano todo, cada variedade produz numa época diferente. Nossa primeira lavoura tem 17 anos de idade e já estamos na 15ª produção e graças a muito trabalho estamos entre os dez maiores produtores do país em quantidade e qualidade. Não adianta apenas produzir, tem que produzir com qualidade. Hoje, na fruticultura, uma das exigências é a qualidade, do contrário não terá mercado e, se tiver mercado, não terá o preço agregado que é necessário para manter os custos de produção. 


ET – Para ser um dos dez mais o que representa essa produção de abacate e a dos citros e mangas; qual a área plantada e a tecnologia empregada?

Paulo Henrique - Hoje temos 100 alqueires (500 hectares), plantados com 25 mil abacateiros de cinco variedades, que vão fechar o ano com 3.500 toneladas.   Estamos iniciando com as mangas vermelhas, a Palmer e a Tommy, com 20 mil plantas que começarão a produzir no próximo ano e mais 50 mil pés de  citrus,  que começarão a produzir em 2015. Só a parte de tratos culturais é mecanizada, mas a colheita é toda manual. Fruta é uma cultura que gera muito emprego, porque a parte da colheita é toda manual.  

 

ET – E para isso empregam quantos funcionários?

Paulo Henrique - Empregamos hoje 40 funcionários, mas com os investimentos que fizemos, nos  próximos dois anos vamos chegar a 100 funcionários, porque vamos ter colheita durante 12 meses; uma variedade de manga em janeiro;   uma variedade de  abacate em fevereiro; outra variedade de manga em março; outra variedade de abacate em abril;  mexerica e outra variedade de  abacate em junho; laranja em julho e vai por aí... Vai virando uma salada de frutas (risos). 

 

ET – E como se trata de uma cultura perecível, a colheita não pode atrasar. Como vão fazer com a mão de obra num tempo em que esse trabalhador é meio escasso no mercado? 

Paulo Henrique – É verdade. Todo mês haverá colheita e assim que o fruto estiver no ponto, a colheita tem de ser imediata e como vamos colher o ano inteiro, precisaremos ter um número agregado de pessoas trabalhando e dar sustentabilidade a isso.   Nossa mão de obra é formada através de intercâmbio. Por exemplo, hoje estamos com um pessoal especializado em poda das mangueiras. Eles vieram de Vista Alegre do Alto (SP), eles vão fazendo a poda  e os funcionários vão acompanhando e aprendendo o processo da poda. Temos preferência por toda mão de obra do município, mas na colheita trazemos complemento da mão de obra de Jardinópolis e os daqui vão aprendendo.  Como o abacateiro atinge uma altura de cerca de quatro metros, temos mão de obra especializada que sobe no abacateiro para a colheita e vão colocando os frutos, num cesto, outros são lançados num colchão. Só que a tendência é termos abacateiros bem mais baixos. 


 ET – Quais são os principais mercados de consumo de abacate? O brasileiro, parece, não é muito chegado a essa fruta, não...

Paulo Henrique - Nossa produção vai para todas as capitais do país e grandes cidades e algumas cidades menores. Hoje, atuamos em dez praças: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Teresina, Recife, Rondônia, Salvador, Manaus, Curitiba. Todo esse abacate vai para a mesa, isto é, produzimos frutas para mesa, para consumo final in natura. A maioria das vendas, o carro chefe de qualquer grande distribuidora, são as redes de super e hipermercados que absorvem um grande volume de mercadoria. Com o abacate pode-se produzir muita coisa.  


ET – Sabão, por exemplo, e o que mais? Essa produção atual é capaz de suprir a mesa do brasileiro e a indústria?

Paulo Henrique – Sim, sabão, mas há várias pesquisas para a fabricação de azeite. Inclusive, um pessoal do nosso grupo aqui em Minas está implementando uma fábrica de sabão, ou seja, estão tentando industrializar o abacate, mas ela está longe de ser em larga escala. A produção no Brasil ainda não é capaz de atender a mesa e a industrialização.  A produção de  abacate, da década de 90 pra cá,  diminuiu de 450 mil toneladas/ano para 150 mil toneladas. A década de 90 foi de preços muito baixos e desestimulou a cultura dando lugar à cana e foi nessa década que migramos pra cá. Enquanto formávamos a lavoura, os preços equilibraram. 

 

ET – Atualmente, como único produtor do município, tem intenção de incentivar o plantio, de fazer arrendamentos, parcerias com outros fazendeiros?

Paulo Henrique - Antes, houve um produtor, mas parou de produzir. Hoje estamos trabalhando para atrair novos produtores. Estamos arrendando e fazendo parcerias com alguns proprietários rurais para montar um polo de fruticultura no município. Nós vendemos as mudas, damos assistência técnica, acompanhando as lavouras, damos todo o suporte e seremos responsáveis pela parte comercial delas no futuro. 

 

ET – Voltando à perecibilidade da fruta, a comercialização desse produto deve ser um dos setores chave dessa cadeia. Qual a estratégia de venda da produção?

Paulo Henrique - Nós temos tradição na parte comercial. Tenho dois primos na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).  Eu já tive firma em São Paulo. Como vocês disseram é um setor muito importante. Pra fazer isso a gente tem de ter a parte comercial bem centrada, senão, não dá certo. É preciso ter tino e percepção de negócios. E para isso tenho contatos em nível nacional com todos os mercados. E é importante destacar que o nosso domicílio fiscal é Sacramento, tudo vem para o município e a nossa maior intenção é gerar mais empregos ainda. 

 

ET – O transporte é feito em caminhões refrigerados?

Paulo Henrique - Ainda não, mas já estamos conversando com os cliente e vamos instalar duas câmaras frias em  Sete Voltas e daqui a dois anos, quando já estivermos colhendo mexerica tudo estará operando em câmaras frias, por questão de logística, de facilidade de horário, para minimizar riscos de transporte e garantir a qualidade. 


ET – E como está a Associação Brasileira dos Produtores de Abacate? É verdade que teremos sua sede transferida de Olímpia para Sacramento?

Paulo Henrique - Sim, é verdade. A Associação já existe, com sede em Olímpia (SP), que está meio sem direção. E como temos um grupo aqui em Minas muito forte, produtores de abacate em grande escala nos municípios de Rio Paranaíba, São Gotardo, Monte Carmelo, Uberaba, Conceição, São Roque, Jacuí, São Tomás de Aquino , São Sebastião do Paraíso e Sacramento, decidimos transferir a sede, uma vez que representamos 25% da produção nacional. Nós conversamos com o pessoal de Olímpia e decidimos fazer uma Associação em Minas Gerais e como a Associação em Olímpia está sem força e sem direção, eles resolveram transferir tudo para Sacramento. Aí ela vai ganhar força e vamos poder focar na questão de marketing e aumento do consumo. Inclusive, esse grupo mineiro tem uma força muito grande em todo o país, razão de estarmos convocando todos os produtores para focarmos nessa área. Já contatamos o  Sebrae e ele já esta fazendo o levantamento em nível nacional  de consumo, de mercado e de produção, ou seja, um levantamento de lavouras para direcionarmos o marketing da cultura.

 

ET – Para isso, a Associação não precisaria também de um centro distribuidor na cidade?

Paulo Henrique – Sim, claro. E ela já está operando em fase de teste, na antiga máquina do Mário Eugênio, próximo ao trevo da MG 190, saída para a BR 262. Isso porque toda a produção da região vai se concentrar aqui e daqui sairá para o mercado consumidor. E agora vamos formalizar tudo, porque   além das parcerias no município, temos parcerias também em Monte Carmelo, São Roque e Uberaba e toda essas frutas passarão pelo município de Sacramento.  Depois de consolidada a Associação, toda a fruta produzida na região passará pela distribuidora. 


ET – Mais da metade de sua vida já passou em Sacramento, desenvolvendo um trabalho que enriquece o município gerando impostos e empregos... Já te deram o título de Cidadão Sacramentano? 

 

Paulo Henrique – Não. Deve ter passado desapercebido por eu estar mais presente no campo

 

Continua na próxima edição