Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Produtores rurais criam associação para garantir uso das águas do rio Claro

Edição nº 1201 - 16 Abril 2010

 

Cerca de 25 produtores rurais, membros da Associação dos Usuários das Águas do Rio Claro, realizaram, na sede do Sindicato dos Produtores Rurais, nessa quarta-feira, 13, a 4ª reunião para tratar de assuntos de seu interesse. A pauta principal do dia foi discutir o interesse da Prefeitura de Uberaba na transposição das águas do rio Claro para abastecer aquela cidade, nos próximos 12 anos apenas. 

Se a outorga for consentida, cai a vazão do rio gerando um grande prejuízo aos produtores que trabalham com irrigação, tipo pivô-central. São 25 produtores rurais com propriedades às margens do rio entre Sacramento, Uberaba e Nova Ponte que fazem uso da água nas lavouras. E a transposição das águas do rio vai resolver temporariamente o problema do abastecimento da cidade de Uberaba, cerca de dez a doze anos apenas. 

O rio Claro, principal afluente da margem esquerda do rio Araguari, nasce no município de Sacramento, bem às margens da BR 262, e segue pelos municípios de Uberaba, Nova Ponte até desaguar no rio Araguari, em Indianópolis.  

Cláudio Carvalho Otoni, presidente da Associação descarta que esteja havendo um conflito entre o grupo de irrigadores e a Codau. “Falam em conflito, mas não é, são interesses diferentes para os quais temos que achar o caminho certo para que não vire conflito, nem que ninguém fique prejudicado. A transposição do rio Claro vai solucionar o problema de Uberaba, apenas temporariamente, e nós teremos que diminuir a área plantada e, talvez, até inviabilizar o plantio por falta de água”. 

Segundo o presidente, a Codau já direito às águas do rio Claro como reserva, para a uma emergência, mas agora eles querem transpor para construir uma ETA – Estação de Tratamento de Água. 

Otoni fala também do benefício do plantio direto, que não revolve a terra e a palhada que fica no solo ajuda na retenção da água. “A evaporação é menor, porque o solo não está exposto, fica poroso e o volume de água que chega ao rio é maior. O plantio direto é um pedido dentro do novo código ambiental, porque em relação à água ele é benéfico. E pudemos constatar que muitas áreas que não tinham umidade já estão formando brejos”.

Mesmo não havendo impacto ambiental, o estatuto da Associação prevê: o mapeamento de todas as APPs (área de preservação permanente), recomposição da mata ciliar, criação de represas para retenção de água pluvial. “Ao contrário das usinas, que jogam o excesso de água fora, nós vamos reter essa água. Para nós isso gerará alimento, riqueza para os municípios e à população”, afirmou, esclarecendo que não haverá dano também à fauna íctica. 

 

Vereador Marcelino Marra apoia produtores das margens do rio Claro

 

O vereador Marcelino Marra Batista, está acompanhando as reuniões dos irrigadores desde o início e apóia os proprietários. “A Companhia de Água de Uberaba – Codau, possui uma outorga provisória de água do rio, que vence em 2012, que lhe permite fazer o uso da água do rio Claro. Mas a Codau está com um pedido de outorga de maior volume de água para construir uma nova ETA, para ter dois canais de abastecimento dentro de Uberaba. E isso gerou conflito. Se os produtores não se organizarem vão ficar sem água, porque já estão com ela limitada e isso pode inviabilizar o plantio ou uma diminuição grande na produção”, explicou.

A importância da associação para o vereador é que os associados agora podem reivindicar coletivamente. “Isso é importante pela capacidade política na defesa dos interesses e também a capacidade de o Estado acompanhar e fiscalizar, exigindo um maior rigor no uso dessa água, uso alternado pelos produtores, por exemplo, para que haja um equilíbrio dessa água. E a importância da irrigação é que além da produção de alimentos, a água volta para o lençol freático, não é com a água urbana que dá descarga e manda embora a água”, explica. 

De acordo com Marcelino, diretores da Codau foram convidados pelo presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Araguari, Wilson Shimuzi, para participar da primeira reunião, mas eles se recusaram. “Eles não tiveram interesse em participar, mas é preciso chegar a um meio termo , encontrar uma solução conjunta, porque é uma fonte de água apenas, não dá pra dividir um pouquinho para cada e se os produtores cederem a água estarão fora do processo de produção, porque sem irrigação não produzem”, afirmou.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, Hermógenes Ribeiro, a sede da Associação é Sacramento, porque a bacia do rio está no município. “O sindicato dá todo apoio, porque a bacia está no nosso município. Nada mais justo porque as coisas acontecem e Sacramento vem sempre perdendo e isso não pode continuar a acontecer”. 

Wladimir Berlese, diretor do Sindicato e proprietário de terras nas margens do rio, conclamou a união dos produtores. “Vim para cá há algum tempo e só olhando, participando e andado por aquela região é que vemos florir aquele chapadão, onde até então só se via emas, pinho e eucalipto. Vocês fizeram uma coisa extraordinária e aquela riqueza abre um leque de empregos e outros investimentos, além de uma grande produção de gêneros alimentícios. É muito importante o que vocês estão fazendo”, disse aos produtores presentes. 

“- Eles simplesmente receberam a notícia de que a partir de tal dia teriam que usar apenas 30% da água que usam. Se eles podem usar só 30% e os outros 70?. Se o produtor irriga só parte da plantação, ele vai produzir 70% a menos, vai gerar 70% a menos de empregos, então cabe a nós de Sacramento, o Sindicato e outros órgãos dar apoio a esses produtores, porque não há outra alternativa.